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Um Blogue de Ismael Sousa

A perspetiva de um homem num mundo tão igual.

Tragédia - Regole de Contemplazione, de Pedro Inock

por Ismael Sousa, em 10.07.18

O silêncio. O silêncio e espaços abandonados. O teu silêncio. O caos. Vives no silêncio, tratando-o tantas vezes por tu. A tranquilidade, a paz. O abandono e o silêncio onde te abandonas. Um espaço tão teu que te parece preencher em todos os momentos. Tu, o teu espaço. Tantas palavras ditas em tão prolongados espaços de silêncio.

 

Talvez haja muito quem passe e não te compreenda no teu silêncio, no teu espaço, no caos que te rodeia. O silêncio, o teu silêncio perturbador.

 

Compreendo perfeitamente a noção de que um artista tenta exprimir na sua arte aquilo que vai dentro de si, a forma como vê o mundo, a forma como sente a negrura ou a luz que o rodeia. Um verdadeiro artista não faz algo só porque sim. Há ali palavras escondidas em ações, em traços.

 

Conheço, pouco, a arte que transmites. Conheço os teus silêncios. Tenho visto o caos em teu redor. Tento sempre ler algo nas palavras que não dizes, nas imagens que mostras e transmites. Não são imagens mudas, simplesmente não usam palavras.

 

Será errado, da minha parte, analisar a arte que fazes ou aquilo que tentas transmitir. Simplesmente posso falar, em palavras escritas e mudas, aquilo que transmite as imagens que partilhas, os silêncios imensos.

 

O silêncio, entre os homens, é assustador. Proferem-se constantes palavras, tantas sem qualquer sentido. Interrompem-se silêncios com palavras desnecessárias, por vezes tão absurdas. Tu reinas no silêncio, evitando as palavras. E a solidão, aquela solidão que não magoa porque não é abandono. Mas, ao mesmo tempo, o abandono e a destruição do que já foi e já não é. Talvez o caos que reina dentro de nós e que não conseguimos organizar, que não queremos demonstrar.

 

E nesse caos, nessa destruição e nesse abandono, na solidão e no silêncio, há uma enorme ordem estabelecida entre o correto e o incorreto. Há a expressão de que somos o que somos, que tão depressa seremos maré serena como tijolo quebrado. Perdem-se os alicerces, abandona-se aquilo que se quer recuperar e não se consegue entender.

 

Há, acima de tudo, a confusão que em nós encontramos e não conseguimos explicar. Ou talvez nem devêssemos querer explicar, mas simplesmente clarear. O caos tudo ordenou, o caos novamente ordenará. A maré calma voltará a abrir o caminho por onde deveremos caminhar. É necessária a calma, a tranquilidade. Fechar os olhos e escutar, fazer silêncio dentro de nós para escutar aquilo que somos, escutar qual o grito do mundo e tentar ser diferente. Chega de palavras desnecessárias, chega de ter medo.

 

Talvez não entendam ou talvez eu ache que entendo e não entendo. Talvez tudo aquilo que se quis transmitir nada seja aquilo que absorvi. Talvez a minha visão seja impura, prejudicada por sentimentos que tanto gritam dentro de mim, por imagens que desejo ler e não leio. Mas percebi o quão difícil é fazer silêncio, parar e olhar sem falar, sem perder tempo a ouvir, mas somente parar, escutar e deixar sentir. Talvez o caos tenha despertado a lágrima que há muito anseia cair e que esteve presa por momentos atarefados de uma vida, por dores que se sentiu e nunca se teve tempo de chorar. Talvez já não haja esperança e que seja melhor abandonar.

 

“Quando saíres mantém o silêncio... como se aqui estivesses.”

[Pedro Inock in "COMO SE AQUI ESTIVESSES - Diagrams on Brick Walls]

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[Este texto é uma reflexão minha a partir do trabalho "Tragédia - Regole de Contemplazione," de Pedro Inock, apresentado nos Jardins Efémeros 2018]