Sou, por natureza, feitio, defeito, aquilo que lhe quiserem chamar, um ser irritante. Admito-o contra todas as minhas forças (ou não). Sei que irrito de várias maneiras. Mas também há coisas que me irritam, irremediavelmente. Esta semana houve uma série de pequenas coisas que me irritaram, que me chatearam, que me deram "a volta à tripa". Nem sei bem por onde começar. Talvez pelo principio, mas não sei bem qual ele é.
Quem me conhece sabe bem como me sinto sempre sensível quando ouço assuntos relacionados com o Cancro. Esta semana foi, por várias vezes, falado o tema de as crianças estarem a fazer quimioterapia num corredor do Hospital de São João. Eu não compreendo todas as justificações que o hospital dá ou deu. A sério que tento fazer um esforço, mas não consigo, é mais forte do que eu. Não se trata somente da questão de quimioterapia, mas sim das crianças. Não consigo compreender como se consegue sujeitar as crianças a tal. É que são crianças que têm uma doença de adultos, uma doença dolorosa, um tratamento horrível que já por si causa danos psicológicos horríveis, e ainda têm de se sujeitar a estar num corredor? Não compreendo, muito sinceramente. Pior do que isto é, sem dúvida, o estúpido comentário, a estúpida crónica que algumas pessoas escrevem num jornal sobre o caso. Bem, é que para além de estúpido é parvo. Como é que alguém no seu estado de sanidade mental escreve uma crónica a comparar crianças que fazem quimioterapia com crianças que morrem na Síria? Não existe, sequer, margem para comparação; não existe, em ponto algum do mundo, motivo de brincadeira nisto. Existe mau gosto, existe estupidez e a prova de que basta ter um nome conhecido para se poder dizer tudo o que se quer. Desculpem mas não consigo achar isso correto.
Tornou-se publica, esta semana, uma reportagem sobre os fogos que deflagraram em outubro do ano passado. Primeiro tenho que dizer que não consigo acreditar que tamanho flagelo tenha sido planeado como referido. Não quero acreditar que se faça tamanha barbaridade e se consiga dormir à noite. Valerá a pena correr um risco tão grande? Não tenho sequer palavras para falar sobre isso. É mau, muito mau. A provar-se que tal aconteceu, devem ser tomadas medidas muito rigorosas. Mas ainda sobre este caso, o dos fogos, mais uma vez quem me conhece sabe que raramente opino sobre coisas que desconheço ou das quais não tenho dados suficientes para falar. É um tanto ou quanto revoltante ouvir as pessoas a fazerem declarações falsas para a televisão. Não sei como podem estas ditas pessoas alegarem que nunca receberam nenhum apoio por parte dos municípios por terem sido vitimas do fogo. Passaram-me pela mão quantidades enormes de cabazes para estas famílias, houve centenas de pessoas a ajudarem "por fora" estas famílias. Nenhuma família ficou a dormir na rua, nenhuma família passou fome. Se as pessoas não puderam retirar as coisas depois do fogo de suas casas, se os dinheiros desejados ainda não chegaram, por algum motivo foi. Existem já casas construidas para famílias que ficaram sem nada que ja foram entregues, mas isso não é publicitado. Se as pessoas têm candidaturas para fazer, se há atrasos é por causa daqueles que se aproveitaram da situação, que choraram aquilo que não tinham. É daqueles que abusaram, daqueles que vigarizaram.
Infelizmente aquilo que mais vende nos dias de hoje é a mentira e a burrice. E, por incrível que pareça, ainda existe muita gente sem o crivo necessário a filtrar estas mentiras. Tenho direito à minha opinião e a expressá-la. Infelizmente eu não tenho um nome público que faça chegar estas palavras mais longe. Mas antes assim que ser conhecido por tecer comentários idiotas.
Ah, para finalizar, seria bom que as pessoas pensassem que nem tudo tem uma segunda inteção e que as pessoas não são todas iguais. Votos de uma boa semana!
Sentado, num balcão sozinho, a beber uma cerveja. Paira o ar pesado do abandono e da saudade. Percorro caminhos que não são os meus, vivo histórias que não são as minhas.
Estou de fato, como muitas das vezes. Hoje é cinzento, bota preta e camisa branca. Estou só eu e os meus pensamentos.
Não sei bem o que paira na minha mente, aquilo que estou a sentir ou o que me faz estar aqui. Lá fora chove, miudinho, o frio faz-se sentir em demasia. Sorrio por simpatia a quem passa e cumprimenta por cortesia. Fumo um cigarro e abandono-me em todo o meu eu. Sou pequeno, realmente, perante tanta grandeza em meu redor.
Chove. Eu acabo a minha cerveja e saio para a rua. O frio gela-me por inteiro. Não me apetece ir para casa, fechar-me no meu canto, enfrentar a realidade. Quero fugir, desaparecer para longe. Quero novas realidades em meu redor, novas pessoas com quem me cruzar.
Dou por mim perdido por entre os caminhos da cidade. Há o frio e a chuva, o abandono e o esquecimento. Há o rio que passa lá em baixo e eu perdido, aqui em cima, abeirando-me do precipício.
Quis arrancar o coração do peito. Tirei as roupas, mergulhei nas gélidas águas. Cravei as mãos no peito e apertei o coração. Mas ele desfez-se nos meus dedos, desfez-se de saudades.
Não sei bem o que pensar, desejo não sentir. Tenho perdido amores que são o nome de cada lágrima que cai, em cada noite, do poço dos meus olhos vagos. Solidão, abandono, falta. O meu coração que se desfez de saudades era negro como a noite. Na minha cabeça pairam palavras cruas, frias, dolorosas.
Há um tempo, um espaço de tempo demasiado grande. Há o meu afundar diário, o negro cada vez mais intenso. Já não consigo sentir algo bom. Choro todas as noites a tua ausência, a falta que me fazes. Já não me lembro do tempo em que sorri, em que gargalhei com tanta sinceridade.
Conto todos os dias, todos os dias que passaram sem te ver. Na minha mente paira aquelas últimas palavras. Aquela última despedida, aquela última palavra. Agora só sobram as cinzas de um coração desfeito.
Existem questões na minha cabeça para as quais eu não tenho uma resposta. Por vezes desejo-as, outras vezes só não as queria ter.
Era um abraço tão reconfortante, algo que foi cura, que foi bálsamo. E eu estava tão frágil, tão despedaçado. E, mergulhado naquele abraço, eu voltei a acreditar naquilo que achava ser mentira, naquilo que havia deixado de acreditar.
Ah, quantas noites me teria perdido nos teus braços, quantas vezes me teria entregue a ti.
Voltei. Voltei àquele lugar que te é tão querido. Voltei a violar o silêncio das ruas, a ler as paredes que um dia decifrámos em conjunto. Voltei a ver o teu rosto que em cada novo dia me está tão desaparecido da mente e que só recordo com a memória cravada no meu peito.
Queria ver-te uma última vez. Queria conseguir dizer-te toda a verdade, sem te causar um peso nos ombros. Sou tão cobarde que até tenho vergonha de mim. E sem te querer causar pena, sem ser um fardo para ti, escrevo. Escrevo tanto. “A ti”!
Onde residirá o amor? Por vezes numa simples pedra de calçada. Por vezes nos pequenos gestos, nas poucas palavras. Nos silêncios.
Não tenho um rumo, não tenho uma vida. E eis-me aqui, mergulhado nas gélidas Águas de um rio, rodeado da ausência. Eis-me aqui, sem coração, moribundo, desfeito em memórias. Somente as palavras aliviam a dor que sinto.
Parto agora, sem coração, sem emoções, sem ninguém. Parto sem morada nas memórias que desapareceram. Uma última lágrima, um último adeus, uma última lembrança: o teu rosto.
Tive hoje a oportunidade de participar numa conferência, no âmbito do Mês da Prevenção dos Maus-tratos na Infância, sobre bullying e cyberbullying, promovida dela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Vouzela.
Apesar de todos já termos ouvido falar sobre este assunto, não nos podemos esquecer que, cada vez mais, é um assunto em cima da mesa, um assunto com que todos nos devemos preocupar. O bullying e o cyberbullying estão presentes nas nossas escolas, nas nossas comunidades, nas redes sociais.
Com a participação da Dra. Teresa Pessoa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra e da Dra Teresa Teixeira do Instituto Português do Desporto e da Juventude de Viseu, falaram-se de assuntos como os dilemas e desafios do cyberbullying e do Movimento contra o discurso de ódio.
Numa breve explanação, a Dra Teresa Pessoa colocou em cima da mesa alguns dados sobre percentagens deste tema, bem como a forma como acontece mais frequentemente. É fácil percebermos quem são os agressores e quem são as vítimas de bullying. Mas quando falamos de cyberbullying, a coisa vira um pouco ao contrário. Muitas vezes o agressor é a vítima, e a vítima o agressor. É muito fácil estar atrás de um computador, deitadinho da cama, no sofá, e ser-se um autêntico agressor cybernauta. Perfis falsos em contas de redes sociais, palavras de ódio e rancor em textos. Mas não nos ficamos por aqui. A facilidade com que se fotografa e faz um filme nos dias de hoje, com que se partilham as coisas que circulam pela internet, é também uma forma de bulying: a imagem de uma pessoa fica denegrida com muita facilidade. Sobre este assunto, pergunto-me não sobre a forma como parar isto, mas que tipo de acompanhamento têm as vítimas? Que consequências têm os agressores? Uma mancha num cadastro será suficiente? Como se acompanham as vítimas, evitando males maiores?
Correm na internet várias noticias sobre um jogo intitulado de Blue Whale. Depois de alguma investigação (principalmente num blogue brasileiro que fala bem sobre o assunto [aqui]) percebi que este suposto jogo leva vários jovens ao suicídio, à mutilação. São ameaçados de que têm de cumprir todos os passos do jogo e caso não o façam as familias podem sofrer consequências. É uma entrada direta para a morte. E são adolescentes com problemas que entram neste jogo e outros que insentivam a que isto aconteça. Diz-se que é melhor deixar o assunto morrer, que no fim tudo se resolverá. Pois eu acho que não, que cada vez mais se deve falar destes assuntos para que as pessoas se apercebam destes sinais, para que possa estender uma mão a quem precisa mas não tem coragem para a pedir.
E este tema leva-me a introduzir o segundo tema debatido nesta conferência: o discurso de ódio. Como são várias as formas de bullying, as palavras proferidas e escritas também o são. Podemos dizer que o racismo, a homofobia, a violência doméstica, entre tantas áreas são também formas de bullying. De uma forma muito prática, a Dra Teresa Teixeira falou sobre este assunto à audiência, composta por formadores e formandos. Em muita coisa me revi nas palavras da Dra Teresa.
A verdade é que, ao longo da vida, vamos sofrendo vários tipos de bullying. Eis um testemunho na primeira pessoa.
Quem me conhece, que conhece a minha vida, desconhece este facto sobre mim. Durante vários anos também fui vítima de bullying, a diversos niveis: físico, psicológico, cyberbullying. No meu tempo não se falava destas coisas, os termos não eram conhecidos. Sofri bullying porque não era igual à maioria, porque pensava de maneira diferente. Bullying porque os meus ideais eram diferentes, porque aquilo que eu gostava era diferente. Porque as coisas que eu escrevia incomodavam. Fui achincalhado publicamente, fui agredido, fui ameaçado. Fui humilhado, acusado, desprezado. Isso talhou a pessoa que hoje sou. É fácil falarmos as coisas da boca para fora sem pensar na pessoa que está ao lado, escrever comentários, ameaçar. É fácil ocultarmos isso ao mundo, escondermo-nos e fazer de conta que nada se passa.
Não é fácil pedirmos ajuda. A vergonha, a falta de forças, impede-nos. Nem todos somos fortes o suficiente e alguns chegam a colocar um ponto final nas suas vidas. Depois? Depois ninguém consegue perceber o porquê de uma atitude dessas, ninguém viu sinais de nada. Mas os sinais estavam lá, as razões conhecidas por todos. Hoje sou uma pessoa diferente, mas as marcas continuam cá. Não tenho um equilibrio sentimental como muitos outros, não aceito ajuda de terceiros, fecho-me demasiadas vezes sobre o meu casulo. Sou inseguro, incapaz de dar um passo arriscado, de tomar decisões que devem ser tomadas. Rejeito a ajuda, tenho-me como muito independente. Vesti carapaças que não quebram, criei um "eu" forte que só existe fora das paredes do meu quarto. Hoje sou uma pessoa diferente em tantos aspectos, mas ainda permaneço fragil em tantos outros. Sou sempre o primeiro a querer ajudar outros que precisem, a tentar evitar que passem por aquilo que eu passei. Queria ser mais ativo neste campo, mas nem sempre é fácil, as lembranças fazem recuar.
Hoje deixo aqui mais um alerta, como há em tantos outros locais: não permitam que isso aconteça à vossa volta. Não vistam a capa do "não é comigo". Somos todos pessoas, somos todos seres com direitos e deveres. Não devemos passar ao lado, mas agir quando tiver que se agir. Não partilhem com pena isto ou aquilo, ouçam os gritos que são dados no silêncio, leiam os pedidos de ajuda que aparecem constantemente. Uma simples palavra pode ajudar. Denunciem, façam o vosso papel como cidadãos. Somos todos responsáveis uns pelos outros. Não permitam que isto chegue a um fim triste. Tomem atitudes. Se eu fizer um bem a alguém e esse alguém retribuir com bem a um outro, criamos um mundo melhor. Não apoiem a violência.
Depois das supostas férias de Páscoa, que para alguns se resumem a quatro ou cinco dias de muito trabalho, é hora de se voltar ao trabalho.
Chegou a Primavera e com ela também uma série de trabalhos a serem feitos. Arranjar energias (onde nem nós sabemos que as temos) e meter mãos à obra.
Voltamos ao trabalho. A rotina retoma (e ainda bem que eu já ando farto da falta dela) e todos seguimos a nossa vidinha, indiferentes ao que se passou (tirando as gramas a mais que agora têm de se gastar para estar em forma para o verão) e só já pensamos no calor que virá aí. Quatro meses estão praticamente passados, já só nos restam oito neste ano que ainda no outro dia começou.
Mas falando em calor, onde é que ele se meteu? Depois de uma semana cheia dele, onde está agora?Aqui, no interior norte do país, o dia está cinzento, o sol é só uma bola que se faz notar por detrás das nuvens. O dia está escuro e como sempre, a escureza do dia faz-nos ficar escuros. Não há motivação para trabalhar, nem apetite para ir para a rua.
Realmente o homem é um ser que nunca está bem com o que tem. Se está calor, não queremos trabalhar porque o que apetece é ir para a rua. Se estamos na rua, é porque está muito calor e não se aguenta. Se chove é porque chove e temos de estar dentro de casa. Se não chove nem faz sol, é porque o tempo está cinzento, dá-nos molesa e vontade zero de fazer alguma coisa. Realmente, haja um Deus que nos ature com toda a nossa insatisfação.
Ainda estamos a meio do dia e eu já só quero que ele acabe. É hora de almoço. Depois de almoçar vou querer o sol de uma esplanada e não tenho. Insatisfeito do caraças. E é melhor ficar por aqui antes que deprima ainda mais! Sol, volta que estás perdoado. Gostamos todos muito de ti e já te queremos a brilhar o dia todo, mesmo que o passemos fechados num gabinete.
Continuação de um optimo e solarengo dia... ou não!
Perdida onde se cruzam as serras da Freita, Arada e São Macário, encontramos uma pequena aldeia. Sem estradas alcatroadas, sem luz e abandonada, Drave mostra-se ao mundo através dos olhos de quem lá vai. Praticamente em ruínas, sem nenhum habitante, a aldeia da Drave é um local paradisíaco, onde a natureza abunda, o riacho corre livremente, os rebanhos pastam a seu bel prazer, os animais vivem numa imensa liberdade.
De difícil acesso e sem melhor maneira para se ir a não ser a pé, Drave encontra-se escondida, mesmo para quem passa nas estradas que a circundam de longe. Sem sinaléticas, é um local onde só vão os aventureiros ou aqueles que, de uma ou outra maneira ouviram falar. Ou pela aldeia de Regoufe, que dista a 4 km, ou pelo alto da serra, a caminhada é por caminhos de terra. Envolvida na flora abundante da serra, de arbustos rasteiros de carqueja, Drave apresenta-nos, num fim de tarde, uma aldeia castanha, em que as casas são todas da mesma cor. Não de cores comuns, nem das casas que normalmente vemos, mas de casas de pedra de lousa e telhados de xisto. A pequena capela é a única que se destaca, pela sua cor branca, caiada. Atravessamos o pequeno riacho e entramos naquela fantástica aldeia. As paredes grossas, as eiras toscas, as janelas abertas. Não há residentes, vizinhos. Somente o silêncio ali se pode encontrar.
Fantasma, a pequena aldeia da encosta tem vindo a ser reconstruído pelos Escuteiros, que ali vão aos fins-de-semana, em atividades ou simplesmente para manutenção. As casas que se encontram restauradas é um trabalho realizado pela Drave Scout Centre, mantendo toda a linha original, respeitando o espaço que a envolve. As noites que lá passam são iluminadas por velas e candeeiros. Há trabalho a fazer, locais para manter. As portas não têm fechaduras. O único pedido deste grupo de escuteiros pede é que nada seja retirado, que nada seja vandalizado. No rio corre água límpida e fresca. Pode descansar-se debaixo de uma árvore, sentar-se a admirar a paisagem verdejante. Drave é o local indicado para se ir quando a vontade de estar em contato com a natureza nasce. Uma caminhada, um local de descanso. E para terminar o dia, nada como voltar a subir a serra e admirar o fantástico pôr do sol que se esconde nas encostas da serra.
Todos os anos somos bombardeados com inúmeras noticias sobre este tema. Todos os anos se fala da mesma coisa. Não sei se é numa forma de prevenção se numa forma de manter a "tradição", mas nada que seja novidade. Deixei o secundário em dois mil e nove (já lá vão oito anos) e no meu tempo e no tempo anterior a mim, já se ouviam relatos de acontecimentos idênticos. Lloret de Mar fechou portas. Os destinos mudaram, os costumes não. A viagem de finalistas é sempre um ponto alto na vida de qualquer estudante. É um marco: o fim do secundário e a partida para uma nova jornada. É também a saída das asas dos pais para uma independência. Ou pelo menos assim deveria ser. Trabalha-se todo o ano para o gozo de uma semana. Uma semana longe dos pais, sem pensar na escola, com os amigos. Um país diferente, uma semana de autêntica liberdade e excessos. É-o por natureza. Bem sabemos qual o resultado quando nos vemos livres de tudo aquilo que nos aprisiona: o álcool é em excesso, há quem experimente drogas e, arriscaria dizer também, uma podridão sexual. É uma única semana onde tudo pode acontecer, onde tudo o que se passa fica lá, esquecido, escondido, nos segredos das amizades, que um dia mais tarde, em redor de uma mesa, serão motivo de recordação. É também verdade, e esta talvez é que deveria ser um maior motivo de notícia, que existem coisas boas e que a pequena minoria que faz notícia não é reflexo do que acontecem nas viagens de finalistas. Existem estudantes que aproveitam para conhecer, descansar, divertirem-se com cabeça. Mas cada um é como cada qual e cada um se comporta segundo a maneira que foi educado. E quer queiram quer não, esta é a verdade. Acho uma certa graça ao ouvir os pais dizerem que "o meu filho não fez nada disso", "foi culpado sem ter culpa de nada". Aos olhos dos pais somos todos uns santinhos, com a graça de Deus. Só nos falta uma auréola na cabeça e colocarem-nos no altar. Pena é que os altares são poucos e pequenos e temos os pés grandes ou corremos o risco de "mjar" as toalhas. Graças a Deus! Questiono-me se os pais conhecem realmente os filhos. É claro que sim, são filhos. Mas e sobre o efeito do álcool? Sobre o efeito das drogas? Como é quando a adrenalina é maior que o normal? "O meu filho nunca tocou em drogas. Não bebe uma pinga de álcool". Já ouvi tantos pais dizerem isso e vi precisamente o contrário. Continuo a dizer que os nossos pais só conhecem de nós aquilo que nós queremos que conheçam. A nossa palavra é de ouro. Os meus pais sempre acharam que eu não fumava. Desde que chegasse a casa sem cheirar a tabaco da boca, que não fumasse com eles por perto, tudo continuava nesta crença absolutamente estúpida. Fumava há oito anos quando os meus pais descobriram. Nunca tinha chegado bêbedo a casa e para os meus pais eu não me embebedava. E eu apanhei com cada uma! Que moral tenho eu para falar? Talvez nenhuma, é verdade. Mas a educação que os meus pais me deram nunca me fez atirar colchões de um quarto de hotel, partir aquilo que não era meu. Talvez por as coisas custarem a ganhar lá em casa e saber que se estragasse tinha de pagar. Já diz o velho ditado: "quem estraga velho, paga novo". A meu ver, a educação reflete-se em todo o lado, independentemente do estado em que estejamos. Conheço os meus limites, sei aquilo que devo fazer ou não fazer. Talvez por isso seja um renegado. É verdade que já fiz coisas para agradar aos outros, mas nunca nada que me fizesse envergonhar ou que envergonhasse os meus pais. Reparo, muitas vezes, que os "Alpha" são cada vez mais e os restantes entram na moda para agradar, para se sentirem incluídos. A rejeição é horrível e por isso nada melhor que nos submetermos a um "Alpha". Sinceramente, não sei o que dizem os livros de psicologia sobre este assunto, mas para mim (descoberta que fiz quando me vi na aflição) todos temos um "Alpha" dentro de nós. Somo-lo ou não por natureza. Mas com algum trabalho esse "gene" virá ao de cima e cada um será capaz de se reger pelos seus próprios principios.
Bem, a verdade é que comecei por falar nas viagens de finalistas e acabei divagando um pouco mais. Quanto a estas viagens, não há muito a dizer. Que seja feita uma prevenção bem maior por parte dos educadores e também por parte das agências de viagens, que só veêm o seu nome manchado. Que haja videos e imagens a sensibilizar, senão coitada de Santa Bárbara que só é lembrada em dias de trovoada. Quanto aos jovens finalistas, porque não começar a pensar numa coisa diferente? Porque não um destino onde possam "aproveitar a vida" mas também conhecer um mundo/cultura diferente? Há tanto local onde ir! Com o mesmo dinheiro conseguem umas férias diferentes. Ah, e não se culpabilizem uns as outros. Não é bonito andarmos a atirar as culpas, acabamos sempre por ser todos iguais. Quanto aos pais? Olhem, uns culpabilizem-se, outros não. Para os pais dos futuros finalistas, uma conversinha séria antes da viagem faz sempre bem.
Quando falamos em cultura musical, especialmente em Portugal, falamos numa cultura muito pouco abrangente. Aquilo que vamos ouvindo e explorando é uma música mais pop, mais do nosso dia-a-dia, numa espécie de música mais comercial. Quando falamos de música chamada clássica, passa-nos ao lado, sem interesse. Pelo menos é essa a perceção que vou tendo quando falo deste assunto. A música, chamada clássica, vai sobrevivendo (em Portugal) pelos grupos de Câmara, coros e alguns grupos que lhe vão dedicando alguma atenção.
Esta semana, mais própriamente esta sexta-feira, tive oportunidade de assistir a um concerto de música barroca. O grupo Ars Luxurians, esteve em residência artistica na pequena vila de Santa Cruz da Trapa, São Pedro do Sul, culminando com uma apresentação na Igreja Matriz da vila. O grupo, constituído por três violinos barrocos, uma violeta barroca, uma viola da Gamba e um cravo, sob a direção de Luis Carlos Peres, encheram todo o espaço com o gemer das cordas, associado às belas vozes da soprano Paulina Sá Machado e o barítono Daniel Simões. Numa pequena abordagem foram recordados grandes nomes de compositores barrocos, como Handel, Telemann e Vivaldi.
Ouvir um concerto deste género é sempre belíssimo. Gostaria de transpor para este texo a beleza que foi. Mas há coisas tão grandes que não se conseguem explicar por palavras. Posso dizer que durante várias vezes fechei os olhos e deixei que o gemer das cordas inundasse toda a minha mente. A perfeita fusão, o entusiasmo com que os interpretes davam às peças, tornaram uma noite simples num retorno a uma era que tem ficado esquecida no tempo.
Pessoalmente já conhecia alguns trabalhos do grupo, graças às novas tecnologias. Há muito que desejava assistir a um concerto do grupo. É claro que este grupo me é querido, apesar de a relação nunca ter sido muita, alegra-me sempre ver pessoas que se cruzaram no meu caminho a fazerem aquilo que mais gostam e, especialmente neste caso, a dar vida a uma grande época musical. O empenho e dedicação é sempre maior que todas as forças que nos levam a desistir. Entristece-me, contudo, que a grupos destes não seja dado o devido destaque. É um grupo jovem que luta por uma cultura que é de todos. Sinto que cada vez mais afastamos esta cultura de nós, que a deixamos guardada em arcas velhas, nos discos dos nossos avós. A música clássica não é moda, não tem futuro. Mas se esta é a realidade é porque nós deixamos. Somos progressistas num esquecimento do que está para trás. Mas aquilo que foi feito é aquilo que tornou possivel sermos o que hoje somos.
Quanto a mim, continuarei entre os meus discos e Cd's de música clássica, entre o meu Bach, Mozart, Handel, Vivaldi, Beethoven e outros tantos. Quero parabenizar todo o grupo Ars Luxurians, Luís Carlos Peres, Paulina Sá Machado, Daniel Simões, Diana Luís, Leonor Bravo, Débora Cerqueira, Ana Sousa e Margarida Balula pela vossa excepcional performance, pela forma bela como tornam a música barroca ainda mais bela. Espero assistir a mais concertos vossos e assistir ao vosso sucesso. Agradecer também ao Centro Cultural Casa do Povo de Santa Cruz da Trapa por trazer até tão perto de nós arte como esta. Para quem estiver interessado, este grupo estará hoje, 08 de abril de 2017, no Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu, na Igreja da Misericórida, onde também será tocado o órgão de tubos por Tadeu Filipe. (Mais info aqui). Quem quiser conhecer um pouco mais o grupo, poderá acompanhar pelo Facebook (aqui) ou no canal do YouTube (aqui).
ARS LUXURIANS O ensemble Ars Luxurians nasceu em fevereiro de 2015 com o intuito de divulgar o património musical dos séculos XVII e XVIII europeu. Os seus membros fundadores, Luís Peres, Margarida Balula e Débora Cerqueira organizaram uma série de concertos nesse mesmo ano com performances musicais em instrumentos musicais originais do período barroco ou cópias fieis dos originais. Tendo início apenas com dois violinos barrocos e cravo, o grupo foi crescendo e neste momento acata uma formação de orquestra de cordas barroca (três violinos e violeta) com baixo contínuo (viola da gamba e cravo ou órgão positivo). Para este concerto, conta ainda com a colaboração de dois cantores líricos. O grupo apresentou-se já nas cidades de Viseu (Orfeão de Viseu, Museu N. Grão Vasco), Oliveira de Frades (Museu Municipal), Carregal do Sal (Centro Cultural), Coimbra (Museu N. Machado de Castro, Convento de S.ta Clara a Velha), Vila Real (Festival Music’alvão), Sintra (Festival in’timus), Mafra (Festival in’música), tendo tido uma receção fervorosa do público.
Relembramos, este mês de abril, o mês da prevenção dos maus tratos infantis. No concelho de Vouzela, uma série de iniciativas têm sido criadas para relembrar este tema que parece, tantas vezes, ignorado e esquecido. Este mês serve para relembrar, não para celebrar. É preciso sensibilizar para este tema que, à porta fechada, acontece diariamente. Mas aquilo que mais transparece é que não acontece, que os maus tratos infantis são coisas casuais, raras e que só acontecem de tempos a tempos. As famílias são perfeitamente normais, as crianças são tratadas maioritariamente bem. Mas este tratar bem é, afinal, o quê? Convém, aqui, relembrar aquilo a que chamamos "Direitos das Crianças". Segundo a informação que consta no site da UNICEF, os direitos das crianças acentam em quatro pilares fundamentais: a não descriminação, o interesse superior da criança, a sua sobrevivência e desenvolvimento e a sua opinião. Ainda no mesmo site, diz que a Convençao dos Direitos da Criança contém cinquenta e quatro artigos. Por sua vez, a Wikipédia (e seja-lhe dado a credibilidade que cada um quiser), aponta-nos onze direitos fundamentais da criança. Muita informação pode ser encontrada na Internet, a facilidade e enciclopédia dos nossos dias. Esta semana trabalhamos com as crianças que vêm até nós, os direitos das crianças, a sensibilização para este tema. Elas são as vítimas silenciosas, tantas vezes, julgando que é normal, que os pais têm todos os direitos sobre eles.
Trabalhamos numa forma de sensibilização, numa forma de semear uma semente que, considero, nunca devia ser semeada. Para mim, as crianças deviam-no ser verdadeiramente. São crianças, deviam puder correr sem medos, emurrar os joelhos e cotovelos, deitarem-se na lama, fazer fisgas e atirar grampos aos pássaros. Deveriam puder rir sempre, sonhar com um mundo tão diferente do que aquilo que ele é. Deveríamos todos ser sempre crianças, rir em qualquer momento, correr nos prados verdes, nos campos. Sujarmo-nos na terra e na lama, saltar nas poças de água, correr à chuva. Deveríamos deixá-los fazer de connta, brincar às escondidas e à cabra cega. Neste trabalho de sensibilização, consigo perceber a indiferença que eles têm sobre o tema. É algo que eles não sentem, que não sabem que existe. Normal, perfeitamente normal. Mas no meio de tanta criança sei que alguns conhecem aquilo sobre o que falamos. Não têm marcas, não o dizem. Mas os olhos falam mais que uma boca. E como são sinceros os olhos das crianças inocentes. O mundo não é fácil, sabemo-lo nós, os adultos. Há preocupações diárias, há perigos constantes. Não me considero a melhor pessoa para falar sobre este assunto. Não tenho filhos nem a pretenção de os ter. Talvez digam que sou novo de mais para falar sobre o assunto e que nada sei sobre o mesmo. Contudo, não deixo de partilhar a minha opinião. Olho em meu redor, observo mais do que falo. Vejo crianças com bolhas e crianças deixadas ao soprar do vento. Crianças privadas de muitas coisas e outras tantas com coisas a mais. Estamos na era das tecnologias. É muito fácil calar uma criança colocando-lhe um telemóvel à frente. Os nossos pais, aqueles que nasceram na época em que as chamadas se faziam apenas por telefone, foram verdadeiros heróis a criar-nos. Ou não saíam ou sabiam como nos calar quando berravamos de mais. E não precisavamos de ser "espancados". No meu tempo, se a minha mãe me dava uma nalgada, era algo perfeitamente normal. Mas a libertinagem é um exagero e há quem não se contenha. E de uma nalgada passa a um estalo e por aí fora. Estamos no mês da prevenção dos maus tratos infantis. Mais do que educar as crianças neste sentido, é necessário educar os jovens e os adultos. Esses serão mais brevemente os novos pais. Esses devem ter uma mentalidade diferente, uma mentalidade em que não mais seja necessário plantar sementes contra os maus tratos infantis. É anti natura. Hoje vamos distribuir laços azuis. Que o laço não caia no esquecimento, mas que seja sempre lembrança de que numa sociedade desenvolvida ainda muitas crianças são saco de boxe daquels a quem estão entregues. Que a luta não seja só hoje, mas em todos os dias. Vou agora para a rua, distribuir laços! Que as mãos nunca sirvam para bater.