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Um Blogue de Ismael Sousa

A perspetiva de um homem num mundo tão igual.

Filosofia da Loucura

por Ismael Sousa, em 30.11.17

Temos sempre de partir. Inevitavelmente, por tantas coisas na vida, temos sempre que partir. Deixar para trás algo que nos faz bem, alguém que fica e alguém que parte. Temos sempre que partir, talvez porque há o mundo e as suas circunstâncias. Temos sempre que partir.

Gostaria de criar um mundo onde cada partida fosse uma nova chegada. Que todo o espaço de tempo fosse, simplesmente, um fugaz momento de ausência. Que cada momento bom durasse eternidades e não fugazes minutos. Um mundo onde o tempo parasse nos momentos em que o coração transborda, em que a alma brilha, em que a mente pára, que a produção de hormonas está no seu auge. Parar, simplesmente e perpetuar esses instantes. Um mundo, simplesmente, bom.

Custa sempre partir, porque significa que estamos bem, que aquele estado de satisfação nos proporciona tudo aquilo que achamos desejar. Custa sempre partir e em cada minuto do regresso é como uma adaga que perfura o corpo, que corta todas as cordas que seguram um coração fraco.

Saber que as ideias são tão díspares, mas que mesmo assim se teima em discutir. Um discussão onde não há vencidos nem vencedores, mas que enriquecem tanto, que criam dúvidas, que fazem repensar. Ter certezas de não ter certezas de nada.

E depois, quando a noite chega e ficamos na solidão do quarto, na cama fria, a saudade de tanta coisa e as palavras que restam. E eu que teimo em ter a mania que consigo brincar com as palavras, escrevo páginas infindas de sentimentos, de sonhos e de sentimentos. Páginas de palavras que guardo no meu silencio, no meu segredo.

E se houver quem goste de ler as palavras que escrevo? E se existir quem sinta o que eu sinto, se reconheça nas minhas palavras e sentimentos, nas minhas saudades e melancolias? E se houver quem goste de me ler? Não há certezas de nada, principalmente agora que ficou instaurada a dúvida.

Há refúgios, locais e pessoas que nos abraçam de forma tão especial, que nada mais consegue ocupar esse lugar na mente.

E há a distância que tanto se faz sentir. Há a saudade e todas as coisas que ela comporta. E o cheiro, o perfume que trazemos, que nos retoma para lugares e pessoas tão especiais. E há palavras ditas e não ditas, segredos tão nossos que ninguém os conseguirá descobrir. Há tanta coisa, tanta mística de cosmos e imperfeições, tantas incertezas de certezas. E um vento que leva e traz, que apazigua e provoca. E há tanto e nada ao mesmo tempo.

E, eu, aqui, deitado sobre a cama, sentado à secretária, em frente ao computador ou com o caderno nas pernas, divago num mundo tão só meu, tão incompreensível. E a escrita que suaviza e se torna insuficiente tantas vezes. Há o tanto e o tão pouco. Há tanta coisa e tão pouca ao mesmo tempo. E as palavras, sempre as palavras, tão suaves ou agrestes, que libertam o ser que há dentro de mim, que libertam a felicidade ou a tristeza, o amor ou o ódio. E tudo aquilo que sinto, mascarado em tantas vezes na profundidade das palavras, algumas tão sem sentido. Mas há, existe! E a falta de lógica ou sentido daquilo que escrevo, das frases que não levam a lado nenhum, das entrelinhas tão pouco percetíveis. A loucura aliada à miscelânea de palavras. E frases inacabadas, sem sentido, provas irrefutáveis da minha loucura diária. E estas publico-as, outras talvez não. Cadernos e cadernos, folhas e mais folhas, manchadas com palavras, num segredo tão só meu que é tão difícil de compreender. Porquê partilhar aquilo que sinto? Porquê transpor em palavras os momentos que vivo? Para lhes dar vida, para lhes dar memória nas noites em que aperta o abandono, nas noites em que a lágrima cai. E essa, a lágrima, molécula que contêm em si todos os sentimentos que transbordam do coração, essa lágrima por vezes tão fatal e tão essencial, essa que liberta e ajuda a seguir em frente, já é tão rara.

Talvez eu já não sinta ou os meus sentimentos sejam tão frios que gelam ao saírem do coração. Pequenas gotas em oceanos tão grandes como a imensidão do universo. Onde estão as certezas, onde está tudo aquilo que não tenho? E que quererei eu? Será que não tenho já aquilo que procuro e não consigo ver? Onde estão os olhos essenciais do coração que veem aquilo que os olhos do rosto não veem? E onde estará o sentido de tudo aquilo que nesta manhã escrevi? Que sentido terá, que repercussão terá? E o tanto e o nada. E a falta de sentido. E relendo tudo o que escrevi, nada faz sentido ou, na loucura que se apodera de mim, um sentido que só eu sei explicar.

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