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Um Blogue de Ismael Sousa

A perspetiva de um homem num mundo tão igual.

O Pequeno Grande Polegar

por Ismael Sousa, em 14.08.17

Era uma criança tão pequena, com os dedos tão pequeninos que todos se chamavam mindinho. Era uma criança mais alta que as escadas, mais larga que as árvores e que de pé via toda a vila em seu redor. Era uma criança, que nascera para salvar uma aldeia, vinda de uma gravidez das costas para o seio de uma aldeia esquecida. Era uma criança que havia de partir, para a terra do era uma vez, onde a sua casa era feita de livros, o mundo o imaginário.

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Era uma criança que nascera numa aldeia, onde havia um casal com mais costas que barriga, uma velha que escutava as pedras, um velho que dava conselhos ao tempo, um Vagalume que arrancava os olhos para não ver desgraças. E numa predestinação a aldeia ia acabar. Até que nasce Polegar, pequenino mas maior que as casas. Mas na sua grandeza haveria de partir. Chegam os palhaços, de caras pintadas e sorrisos esboçados, subindo a escadas altíssimas. E em tamanha grandeza e pequenesa do pequeno que poderia ser bala para canhão humano, os palhaços deixaram os narizes e a felicidade reinou onde não havia réstia de sorrisos. Um nariz vermelho, uma pequena grande criança: uma felicidade que pode ser tão grande. "Se o Polegar chegar ao céu, vai brilhar como uma estrela. A lua levará um véu e o sol camisa vermelha. Pico, pico, sarrabico, espera aí que eu já lá vou. Eu aqui é que não fico que a festa já começou."

 

Foi no passado sábado, dia 12 de agosto, que em Vouzela nasceu o Pequeno Grande Polegar. Uma vez mais, o Trigo Limpo teatro ACERT leva aos locais do distrito um enorme espétaculo com os seus característicos bonecos gigantes. Depois de A Viagem do Elefante, o teatro de rua (sobre)vive com a história de O Pequeno Grande Polegar.

IMG_4734.JPGPara quem achar que é mais um espetáculo que se desengane. O Pequeno Grande Polegar, envolve novamente os habitantes dos locais que visita, num espetáculo grandioso, não só a nível de espaço e imagem, como também pelas músicas e textos. Para os mais atentos, O Pequeno Grande Polegar trás um texto delicioso, com vontade de se mastigar todas as palavras que são ditas. Há uma velha que escuta pedras, um velho que queria ir num caixão e que dá conselhos ao tempo. Há um tolo que diz dar estrelas e que tira os olhos para não ver as desgraças. Há um casal que dá à luz um filho e um circo que chega à aldeia. Há metáforas e analogias, narizes vermelhos e tantas outras coisas para descobrir neste teatro de rua. Há uma loucura associada que nos leva a voar agarrados a guarda-chuvas de multicores.

Há arte na rua, de forma gratuíta. A arte/cultura continua viva, só é necessário deixar-se envolver por ela. Depois de nascer em Vouzela, Pequeno Grande Polegar irá nascer novamente no Sátão e depois em Tondela. Não deixem de assistir e de viver, nem que seja só por uma hora, no mundo do era uma vez...

 

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