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Um Blogue de Ismael Sousa

A perspetiva de um homem num mundo tão igual.

Metamorfoses de trovões!

por Ismael Sousa, em 04.09.18

A trovoada possui os céus lá fora, enchendo de luz toda a escuridão da noite. Não cai uma gota de chuva, somente a secura de uma trovoada de verão inundando de luz onde o sol há muito deixou de brilhar. Pela janela do meu quarto entram esses clarões de essência, dando existência a tudo o que está em meu redor durante breves instantes.

 

Estou deitado na cama, mergulhado no silêncio possível, submerso em pensamentos. De olhos fechados recordo cada traço do teu rosto que parece estar mesmo a meu lado. Sinto o teu cheiro que me tolda o pensamento. Os meus lábios sentem os teus lábios carnudos e dóceis, suaves e doces. Sinto o teu corpo junto ao meu, mesmo não estando. O teu respirar cai sobre mim e os teus lábios ainda percorrem o meu pescoço. O calor da tua pele, o sabor dos teus braços em torno de mim. Apertados, como se nos quiséssemos tornar um só. Esse calor apertado, esse abraço que não deixa de existir.

 

Cada palavra que escrevo se parece tão insuficiente para descrever aquilo que sinto. Mais um clarão, a breve existência em redor de mim. Tudo ganha vida tão brevemente e a minha realidade inferniza-me sabendo que não estás aqui.

 

Possuis-me mesmo não estando. Sinto-te presente na ausência que vivemos. E os teus lábios suaves nos meus, os meus dedos em tua face, eu e tu, nós e nada mais.

 

Sinto-me enfeitiçado, na estranheza e incerteza daquilo que vivo ou sinto. E estes breves instantes de uma existência real ou imaginária tornam-me vulnerável e inseguro. O meu coração fala-me mais que a razão. Sempre falou. Um dia irei arrancá-lo se me voltar a fazer sofrer. Irei atirá-lo para as profundezas do mundo para que ninguém o coloque em seu peito. E se um dia eu voltar a chorar por coisas que o coração me faça sofrer, regarei as flores do meu canteiro, para que nasçam e gritem ao mundo que o coração só faz sofrer.

 

E em amanhãs que me perca de esperanças infundadas, que no fim finde a minha vida junto ao mar das saudades que tanto sinto, morto por um clarão qualquer que me rodeie e tire de mim a vida que me sustenta, homem sem lágrimas e sem coração.

 

Novamente um clarão, vida por um instante, coração palpitante, lágrimas secas, razão censurada. Pensamentos e vida, eu e tu, nós se existir um nós. E o bater do teu coração, peça indispensável de vida, junto ao meu peito, o ar que te insufla os pulmões e me aquece o pescoço. E eu e a minha saudade. E eu e a minha existência.

 

E de novo os teus lábios carnudos, o teu corpo contra o meu. E o medo que me assola de ser mais um momento. É um último clarão, fraco, inundando fracamente tudo em meu redor. O último, o final, o derradeiro. E eu que me deixei levar pelo sono sem mais saber que existências terei no amanhã que surgirá tão certo como as estrelas brilharem mesmo por detrás das nuvens carregadas de raiva e energia. E nesse amanhã não saberei se eu estou. Talvez este último, derradeiro, final clarão me retire a vida, deixando o corpo frio, sem movimento, sem bater de coração.

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Coisas de dar a volta à tripa!

por Ismael Sousa, em 16.04.18

Sou, por natureza, feitio, defeito, aquilo que lhe quiserem chamar, um ser irritante. Admito-o contra todas as minhas forças (ou não). Sei que irrito de várias maneiras. Mas também há coisas que me irritam, irremediavelmente. Esta semana houve uma série de pequenas coisas que me irritaram, que me chatearam, que me deram "a volta à tripa". Nem sei bem por onde começar. Talvez pelo principio, mas não sei bem qual ele é.

Quem me conhece sabe bem como me sinto sempre sensível quando ouço assuntos relacionados com o Cancro. Esta semana foi, por várias vezes, falado o tema de as crianças estarem a fazer quimioterapia num corredor do Hospital de São João. Eu não compreendo todas as justificações que o hospital dá ou deu. A sério que tento fazer um esforço, mas não consigo, é mais forte do que eu. Não se trata somente da questão de quimioterapia, mas sim das crianças. Não consigo compreender como se consegue sujeitar as crianças a tal. É que são crianças que têm uma doença de adultos, uma doença dolorosa, um tratamento horrível que já por si causa danos psicológicos horríveis, e ainda têm de se sujeitar a estar num corredor? Não compreendo, muito sinceramente. Pior do que isto é, sem dúvida, o estúpido comentário, a estúpida crónica que algumas pessoas escrevem num jornal sobre o caso. Bem, é que para além de estúpido é parvo. Como é que alguém no seu estado de sanidade mental escreve uma crónica a comparar crianças que fazem quimioterapia com crianças que morrem na Síria? Não existe, sequer, margem para comparação; não existe, em ponto algum do mundo, motivo de brincadeira nisto. Existe mau gosto, existe estupidez e a prova de que basta ter um nome conhecido para se poder dizer tudo o que se quer. Desculpem mas não consigo achar isso correto.

Tornou-se publica, esta semana, uma reportagem sobre os fogos que deflagraram em outubro do ano passado. Primeiro tenho que dizer que não consigo acreditar que tamanho flagelo tenha sido planeado como referido. Não quero acreditar que se faça tamanha barbaridade e se consiga dormir à noite. Valerá a pena correr um risco tão grande? Não tenho sequer palavras para falar sobre isso. É mau, muito mau. A provar-se que tal aconteceu, devem ser tomadas medidas muito rigorosas. Mas ainda sobre este caso, o dos fogos, mais uma vez quem me conhece sabe que raramente opino sobre coisas que desconheço ou das quais não tenho dados suficientes para falar. É um tanto ou quanto revoltante ouvir as pessoas a fazerem declarações falsas para a televisão. Não sei como podem estas ditas pessoas alegarem que nunca receberam nenhum apoio por parte dos municípios por terem sido vitimas do fogo. Passaram-me pela mão quantidades enormes de cabazes para estas famílias, houve centenas de pessoas a ajudarem "por fora" estas famílias. Nenhuma família ficou a dormir na rua, nenhuma família passou fome. Se as pessoas não puderam retirar as coisas depois do fogo de suas casas, se os dinheiros desejados ainda não chegaram, por algum motivo foi. Existem já casas construidas para famílias que ficaram sem nada que ja foram entregues, mas isso não é publicitado. Se as pessoas têm candidaturas para fazer, se há atrasos é por causa daqueles que se aproveitaram da situação, que choraram aquilo que não tinham. É daqueles que abusaram, daqueles que vigarizaram.

Infelizmente aquilo que mais vende nos dias de hoje é a mentira e a burrice. E, por incrível que pareça, ainda existe muita gente sem o crivo necessário a filtrar estas mentiras. Tenho direito à minha opinião e a expressá-la. Infelizmente eu não tenho um nome público que faça chegar estas palavras mais longe. Mas antes assim que ser conhecido por tecer comentários idiotas.

Ah, para finalizar, seria bom que as pessoas pensassem que nem tudo tem uma segunda inteção e que as pessoas não são todas iguais. Votos de uma boa semana!