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Um Blogue de Ismael Sousa

A perspetiva de um homem num mundo tão igual.

Até ao fim do mundo!

por Ismael Sousa, em 12.12.17

Não sei como começar este texto. Simplesmente não sei. Queria começar de uma forma poética, amorosa, de um forma que cativasse logo na primeira frase. Queria uma forma original, diferente, algo não tão comum como as palavras que escrevo constantemente. Queria, simplesmente, começar de forma diferente. Mas a imaginação não deixa, as palavras parecem escassear. Escrevo e apago inúmeras vezes. Simplesmente não sei como começar.

 

E porque não sabia como começar, comecei simplesmente com palavras confusas e sem intenção declarada ao inicio. Comecei e vim por aí, sem grande sentido, somente numa enorme confusão.

 

Quero escrever, sinto essa necessidade. Mas não sei sobre o que escrever. Tudo parece tão banal, tão sem sentido. Não quero falar de tristezas mas também não quero falar de amor. E estes são sempre os dois temas inspiradores de qualquer escritor. Ou somente meus, não sei. Por vezes generalizo para não me sentir tão sozinho.

 

Preciso urgentemente de escrever. Não quero falar de tristezas porque me afundam. Não quero falar de amor porque me traz saudades. Então não sei sobre o que falar. Talvez do tempo e do frio que se faz sentir.

 

- Faz frio lá fora.

- Sim, está gelado!

- Como o meu coração.

- E não há fogo que o aqueça?

- Faz frio lá fora.

- Parece que vai chover...

- Não, sou eu que estou com saudades...

- E de quem tens saudades?

- Parece que vai nevar.

 

E o mundo gira, indiferente a mim e a outros. Gira na sua enormidade, na sua grandeza, na sua infinitude. E eu perco-me a debruçar-me sobre a forma como começar. E comecei, sem dar por isso. E escrevi, num tanto sem sentido, numa tentativa de manipular as palavras que uso no dia-a-dia, sem que elas sejam especiais ou belas, mas simplesmente banais, como eu.

 

- Começou a chover.

- (silêncio)

- Parece que veio para ficar...

- Somos seres tão comuns...

- Não trouxe guarda-chuva. Vou apanhar uma chuvada.

- E se o mundo um dia parasse para pensar.

- Vou-me embora antes que chova mais.

 

E porquê que tudo tem que ter um belo inicio? Porque teremos que desvendar todos os mistérios no princípio? E a mística do ir desvendando onde está? A vontade de querer tudo saber para depois não ter nada que conversar? Surge a dúvida constantemente na minha mente. Odeio a dúvida. Odeio-a porque talvez a ame de mais, porque ela me faça questionar tanta coisa que era tão certo antes. Não sei por onde começar, nem que palavras usar. Soa-me tudo tão estúpido.

 

- Vens?

- Não, fico mais um pouco.

- Olha que depois apanhas uma grande molha.

- Gosto da chuva.

- Mas está tanto vento...

- Gosto da chuva e do vento. Do som a bater na vidraça. De caminhar à chuva e de chegar a casa encharcado.

- Não sejas doido, anda-te embora.

- Não, eu fico mais um pouco.

- Teimoso! Até logo.

- Não vás, fica comigo...

 

E em tantas reticências para começar, comecei e acabei, sem escrever nada em condições. Devaneios, loucuras. Nada mais. Comecei e terminei porque necessito sempre de terminar. Não gosto de pontas soltas e já há tanta ponta na minha vida a que eu não consigo dar um nó. Comecei e acabei sem dizer nada. Somente palavras encadeadas, loucuras mais que expressas. E todo o âmago, toda a amargura, indiferença e insensibilidade. A chuva bate fortemente na vidraça, o vento leva consigo as folhas que ainda se prendem nos ramos das árvores.

 

- Vou-me embora!

- Não vás, fica!

- Vens?

- Onde?

- Vens?

- Até ao fim do mundo.

 

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